Quando discutimos o papel da tecnologia no setor de publishers, é essencial reconhecer que o próprio setor tem suas raízes na criação de uma inovação tecnológica, a notável prensa de Gutenberg. Isso nos leva a refletir sobre quantos mercados foram obsoletos ao longo dos séculos, enquanto a indústria da imprensa não apenas sobreviveu, mas também prosperou.
Em um mundo onde revoluções tecnológicas frequentemente reconfiguram indústrias inteiras, é notável que os publishers continuem a desempenhar um papel fundamental na sociedade. Essa resiliência é, em grande parte, resultado da capacidade do setor em se adaptar e aproveitar as inovações tecnológicas para alcançar o público.
Agora, diante de um cenário digital ainda mais volátil do que quando os termos mundo VUCA e BANI foram cunhados, é preciso continuar a se reinventar, estabelecendo uma relação de cooperação com as novas tecnologias a fim de manter sua relevância e importância em uma sociedade hiperconectada e cada vez mais crítica quanto aquilo que consome em termos de conteúdo.
Personalização e padronização
Os algoritmos ajudaram a criar bolhas de informações que, embora possam atender à preferência do público, também geraram preocupações sobre a polarização e a desinformação, sendo um dos principais pontos em que a tecnologia se torna um importante aliado para enfrentar esses desafios e garantir que o público tenha acesso a informações confiáveis e diversificadas.
A entrega de conteúdo personalizado e impulsionada por algoritmos de recomendação, abriu caminho para que os demais veículos e plataformas passassem a fornecer conteúdos mais relevantes de acordo com o nicho, ao passo que, também colocou um maior compromisso em equilibrar essa personalização com uma visão mais ampla da realidade.
O combate às fake news e à desinformação se tornou outro ponto crítico para o trabalho de publishers, pois a mesma tecnologia que ajuda a evitá-las está sendo treinada para disseminá-las, tornando o desenvolvimento de ferramentas de verificação de fatos automatizadas e sistemas de detecção de conteúdo cada vez mais complexos e caros de serem desenvolvidos.
Diversidade de meios e formatos
Outro desafio importante é a crescente demanda por conteúdo multimídia, incluindo vídeo, áudio e formatos interativos. Diversas publishers estão adotando tecnologias avançadas para criar, distribuir e gerenciar esse tipo de conteúdo com o apoio de inteligência artificial, uma vez que muitas delas têm seu modelo de produção ainda estruturado pensando em redações tradicionais.
Mesmo que muitos pensem o contrário, a monetização ainda não é uma unanimidade no meio, pois poucos casos conseguem ser tão bem-sucedidos como o NY Times e mesmo que modelos de negócios como paywalls ou assinaturas digitais estejam em contínuo aprimoramento, as discussões ultrapassam a questões tecnológica e passa a mais hedonista: qual recompensa é capaz de motivar um pagamento por parte do público ou mesmo a cessão de seus dados — o que leva a um outro desafio: adequações à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Os desafios do futuro
Entender como ter um usuário mais engajado respeitando os limites da LGPD é um grande ponto de debate que leva a uma busca coletiva do mercado para encontrar o equilíbrio entre a coleta de dados e o respeito a privacidade. Este é um dos desafios mais complexos que os publishers enfrentam atualmente, visto a rigidez das regulamentações e a falta de processos (e até mesmo pessoas) que sejam capazes de tornar esse processo fluente dentro das organizações.
A busca pela atenção do usuário atingirá novos patamares de complexidade, evidenciando a necessidade de engajamento cada vez maior do público consumidor atual em relação à busca por novos usuários, afinal tem se mostrado cada vez mais caro alimentar o topo do funil. Soma-se isso à necessidade das publishers de investir em estratégias de engajamento que vão além das métricas tradicionais, envolvendo os leitores de maneira significativa e construindo comunidades em torno de seus conteúdos.
Uma importante vantagem estratégica será entender de que forma a integração de tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial Generativa, poderá potencializar o resultado dos times de produção, sem que isso signifique uma concorrência interna ou mesmo um inimigo a ser perseguido.
Depender cada vez menos de mecanismos de busca e investir em canais proprietários em que há um nível mais seguro de controle do ambiente é outro fator decisivo nas estratégias de hoje e que deve refletir significativamente nos resultados futuros. De modo geral, publishers tem tido menos tolerância às rápidas mudanças nos algoritmos de pesquisa que impactam de maneira pouco previsível a forma como os times trabalham e a estrutura dos produtos atuais.
Os novos desafios enfrentados pelos publishers representam questões que são recorrentes do setor, como a busca por uma audiência sustentável, a adoção de novas plataformas e meios, a disputa pela lealdade do usuário e, acima de tudo, o compromisso contínuo em fornecer conteúdo confiável e de qualidade por meio de tecnologias que façam sentido para o usuário e o próprio negócio.