Casamento às Cegas e o product placement que não é4 min read

Casamento às Cegas e o product placement que não é4 min read

Se minha avó ainda fosse viva, certamente falaria que a Netflix “não dá ponto sem nó”. Desde que mudou o modelo de negócios para focar mais produções originais do que conteúdos já consagrados, a plataforma vem se mostrando um dos grandes destaques mundiais na análise de dados. Então, ela sabe o que você assiste, quando […]

Renan Hamann 23/02/2022 às 15:09 4 mins. de leitura

Se minha avó ainda fosse viva, certamente falaria que a Netflix “não dá ponto sem nó”. Desde que mudou o modelo de negócios para focar mais produções originais do que conteúdos já consagrados, a plataforma vem se mostrando um dos grandes destaques mundiais na análise de dados. Então, ela sabe o que você assiste, quando você assiste e o que patrocinar para que você assista ainda mais.

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Eis que a franquia Casamento às Cegas chegou em 2020 (Pandemia, ano 1) e dominou tanto o streaming quanto as redes sociais. Em todo o nosso planeta, milhões de pessoas (30 milhões delas, somente nos primeiros 2 meses) pararam para ver desconhecidos tentando encontrar o amor sem saber o rosto de seus pretendentes. A fórmula funcionou e foi reproduzida. Com isso, vieram Casamento às Cegas Brasil, Casamento às Cegas Japão e a 2ª temporada norte-americana.

Tudo muito bom, tudo muito bem se não fosse o fato de a crítica especializada (também conhecida como “a galera do Twitter”) ter-se indignado com a “falta de qualidade romântica” dos novos casais. Mas esse é um assunto para outros sites discutirem, pois o que queremos abordar aqui é que essa falta de engajamento em relação à história nos revelou uma protagonista inesperada: as taças douradas que aparecem em todo (e qualquer) encontro.

É product placement?

Quem é de marketing ou conteúdo sabe: se está na tela geralmente é porque pagou! Ainda mais quando isso acontece de uma maneira tão reincidente que passa a não ser mais tão natural. Fazendo uma rápida pesquisa no Google Trends, vemos que, nos Estados Unidos, o volume de busca por “golden cups” está em seu ponto mais alto. Seria um indício de sucesso da campanha!

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Isso se ela fosse uma campanha. Nessa semana, Chris Coelen (o criador da série) revelou à Variety: “É apenas algo que eu gosto!”. Em outras palavras: nada de product placement! Nenhuma marca cedeu um único centavo para que aqueles cálices todos fossem usados nas gravações. Na verdade, isso custou dinheiro à produção.

Mas se não é branded, por que está em uma coluna de branded?

Pode ser que algumas pessoas pensem que não faz o mínimo sentido trazer um conteúdo de branded content que não fale sobre branded content — e pode ser até que digam, assim como a Netflix fez com os copos, que nesse artigo estamos fazendo uma exposição gratuita da Netflix e da série. Mas hoje a análise é sobre o mensageiro, não sobre a mensagem.

Quando falamos sobre conteúdo para marcas, é muito natural pensarmos que a marca deve ser sempre evidenciada e colocada em um pedestal. Porém, a verdade é que várias campanhas de conteúdo podem ser muito mais amenas do que os famosos “Conheça 5 razões para”. Um dos exemplos de branded content que mais gostamos é o do Chaves em Acapulco (falei sobre isso aqui), porque ele gera uma discussão sobre algo indireto.

Ainda que a escolha dos cálices dourados tenha sido completamente estética, ela gerou “Buzz”. O Mashable chegou a considerá-las como as “reais estrelas do show”. O Twitter dos Estados Unidos também foi palco para bastante discussão desde a estreia da segunda temporada.

É claro que ninguém fala sobre eles sem dizer qual é a origem da discussão, ou seja, Casamento às Cegas (Love is Blind) se torna um foco também. Se o criador da série tivesse dito que isso foi intencional, estaríamos discutindo a sagacidade dele aqui agora.

Fica a lição para todo mundo da comunicação e do marketing: às vezes, a criação de discussões está em escolhas mais simples (nesse caso, a escolha de algo original e pouco usual) do que nas superproduções. Também é sempre válido relembrar: quanto menos interrupções, melhor.